Hoje, milhares de manifestantes encherão as ruas de Lisboa. Mas este também é o momento para pensar na maioria dos trabalhadores, precários, explorados, desempregados que não estarão na manifestação da Intersindical nacional.
Portugal assiste a uma das maiores ofensivas capitalistas contra a vida da maioria do seu povo, ao ponto de já nem os capitalistas a negarem. A ideia que o futuro será pior, domina o discurso político institucionalizando o medo.
É preciso que se tenha consciência que a maioria dos cidadãos que não participarão na manifestação, muito provavelmente, desejaria que a manifestação não se realizasse, não porque não concorde com a sua convocatória/reivindicações ou porque apoie o governo, mas por medo das suas consequências nos "mercados".
Não é preciso ser-se especulador, jogar na bolsa ou ter chorudos depósitos nos bancos, para que se tenha medo do "mercado". A sensação generalizada é que o nosso amanhã não depende do governo que elejamos, da UE ou da Alemanha, mas do que entendam as empresas de rating, o FMI ou o BCE.
"Os mercados" vão determinando a sua política sempre mais facilmente estruturada a partir de governos podres e corruptos, sem inibições éticas e morais para aplicar as mais violentas medidas contra quem os elegeu, sem esquecer de construir uma segunda opção de poder que possa vir a receber o poder mantendo as mesmas políticas.
Esta camisa de forças que se construiu em torno de quem vive em Portugal, Grécia ou Espanha não é recente, ao contrário do que Sócrates papagueia, mas está a começar apertar para além dos limites da dor, como já o fez em tantos outros países e diferentes momentos históricos.
Temos por isso duas opções.
Aguentar a raiva em silêncio e esperar que, por bom comportamento, a camisa de forças afrouxe os cintos, deixando nas mãos dos "mercados" o nosso futuro ou rasgar a camisa de forças e lutar por tomar em suas mãos o nosso futuro.
Quem hoje sairá à rua com a Intersindical fá-lo-á porque escolheu a segunda opção.
in Expresso on-line 29/05/2010